As cores e formas brincam com o estilo da cidade e expressam, em espaços públicos, a beleza ou, até mesmo, a denúncia em forma de Grafite. São imagens que ganham espaço no visual urbano e que já fazem parte do cotidiano da cidade. Embora a arte do Grafite venha conquistando cada vez mais espaços na sociedade, o movimento ainda sofre com a questão do preconceito. José Eduardo, popularmente conhecido como Alemão, um dos mais destacados grafiteiros de Teresina diz: “a grande razão dessa discriminação está relacionada a falta de conhecimento e informação, que impossibilita à população distinguir as pichações do grafite”.
Embora ambas possuam contextos sociais parecidos, a pichação é uma forma de expressão da juventude que tem traços, riscos e uma característica própria, sem muitas cores, enquanto o grafite é uma arte mais complexa, com técnicas e cores que visam transmitir uma mensagem de cunho social. Muitas vezes a discriminação do trabalho desenvolvido pelos grafiteiros começa dentro da própria família. “Minha mãe diz que aquilo não vai me levar a nada, que ficar nas ruas é coisa de vagabundo, a própria sociedade marginaliza um jovem que está querendo potencializar artisticamente”, diz Alemão.
Para Panzer o grafiteiro de certa maneira é estereotipado pela sociedade, “certa vez fui conversar com um cliente, e percebi que ele me observou de uma forma diferente, acho que ele imaginava que eu iria chegar malvestido, calças rasgadas, de boné, falando gírias, essa é uma imagem distorcida que a sociedade tem da gente”.
Com o objetivo de tentar descontruir essa visão marginalizada do grafite, foi aprovada em maio de 2011 alterações à Lei Federal n°12.408, que busca diferenciar a pichação do grafite e ainda proibir a comercialização de latinhas de spray aos menores de 18 anos em todo território nacional. Com esse aporte legal, a arte do grafite não é mais considerada crime se for realizada, segundo o documento, com o objetivo de valorizar o patrimônio público e privado, mediante manifestação artística e com o consentimento dos proprietários.
Mesmo depois dessa aprovação, que, na tese, garante maiores incentivos à arte urbana, o que podemos perceber entre os grafiteiros é uma certa frustação, pois os apoios são limitados. Desta forma, algo bastante reivindicado é a realização de mais eventos, onde esses artistas possam mostrar seus trabalhos. Alberto Tavares Matos da Cruz, mais conhecido como Panzer, afirma que “o principal empecilho, sem dúvida, é a falta de incentivo; em Teresina até que a prefeitura dá um certo incentivo promovendo alguns eventos como o Lagoas do Norte, mas não é o suficiente para valorizar nossa arte, outro fator que dificulta nosso trabalho diz respeito a conservação do grafite, o grafiteiro tem que ter consciência que seu trabalho é efêmero, a gente faz um trabalho hoje e amanhã ele pode ser apagado”, enfatizou.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, os grafiteiros, através do trabalho desenvolvido, estão conseguindo mudar, pouco a pouco, a realidade do grafite local; pois, se antes o trabalho surgiu em meio a uma cultura marginalizada, hoje ele vem tomando status de arte. Prova disso é o espaço que ele vem conquistando no cenário local, onde o grafite deixou de ser visto apenas como arte urbana e está migrando para outras plataformas como: roupas, bonés, canecas, shoppings, casas, empreendimentos e etc.
Para Alemão, o grafite pode ser definido como uma arte em ascensão, que está saindo dos muros da cidade e se tornando uma referência para outros segmentos. Na opinião dele, esta é a principal expressão da arte contemporânea, pois é colorida e impactante, e sempre busca transmitir uma mensagem para a sociedade. Hoje o grafiteiro pode ser reconhecido como um artista plástico, como empreendedor - uma vez que sua arte vem se expandindo para os estúdios de tatuagens, quadros, museus.
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