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O jarrinho de felicidade
(uma doce lembrança do passado)
por: Aldenora Cavalcante
Vitória então caiu em prantos. Sentou-se na pedra bonita e, pela primeira vez, não se encantou com sua magnitude.
- Caiu! Olha ali perto do lago – disse ela ofegante, apontando em direção a margem do pequeno lago. Quando percebeu o que estava acontecendo, permaneceu estática. – Pega para mim! Não deixa a correnteza levar. Não posso me desfazer dele!
O rapaz, mesmo sem entender muito bem a importância daquele jarro vermelho e surrado, obedeceu sem pestanejar e juntou cada pedacinho encontrado no chão antes que caísse na água. A cada junção e encaixe daqueles cacos, o sorriso da moça se engrandecia e iluminava o ambiente. A energia dela se restaurava e confundia ainda mais Fernando.
- Para quê você precisa desse jarro tão inútil? – indagou o rapaz fascinado com a beleza da moça a sua frente.
- Isso que você ajudou a salvar, carrega consigo todo o meu coração e acorrenta minha alma em um entrelace de amor profundo e cumplicidade restauradora. Esse é o meu jarrinho de felicidade.
- Como pode um vaso tão feio, comportar sua mais elegante beleza? Quem o deu a você?
- Você não consegue perceber? – perguntou Vitória assustada.
- O que eu tenho que perceber?
- Eu que quis retirar meu coração de dentro de mim e colocá-lo aí. Foi escolha minha.
- Ainda não entendo. – o rapaz achava um absurdo muito grande uma pessoa retirar o coração e depositar ali. Não existe decisão e escolha pior.
- Eu facilito a divisão ao fazer isso. Assim poderei deixar um pouco de mim em cada pessoa que eu sentir que merece. Nem todos são merecedores de uma parte de mim. – explicou a bela moça com um brilho puro de ingenuidade cativante no olhar – Mas agora não sei o que farei, meu jarrinho está quebrado.
- Como faço para ter um?
- Basta desejá-lo. O jarro de felicidade se cria quando sente que alguém precisa dele.
Fernando refletiu um pouco e resolveu acreditar no que ouvia. Aquela menina parecia ser verdadeira. Com medo de cair no lago, devolveu o que restou do jarrinho para Vitória e sentou-se na pedra bonita durante um longo tempo.
Ficou de pé de repente e notou a transformação e, subitamente, o jarro de felicidade se fez completo. Em um gesto, o rapaz depositou seu coração ali dentro e sentiu-se leve e revigorado. Até o ruído do vento que tocava em sua pele lhe era encantador. Virou-se para a garota e sentiu-se radiante. Levantou a mão e ofereceu o jarrinho para Vitória.
- Fiz para você.
- Como assim? Não entendo o motivo.
- Seu jarrinho está quebrado, você não pode viver fragmentada desse jeito. Você não merece. Receba o meu.
- E como você fica sem o jarrinho?
- Feliz por saber que meu coração está perto de ti. Fortalecido por te ver inteira novamente. Tome, é seu! Vou ficar aqui nessa clareira concertando o seu jarro, não se preocupe.