Dramaturgo, escritor e acadêmico, Ací Campelo nasce em Lagoa da Pedra, lá no Maranhão, e estreia no palco piauiense há cerca de 50 anos. Aqui, nessa terra onde cada desejo de “Merda!” que antecede a sorte de um bom espetáculo é certezeado com muito calor humano, Ací se destaca como um dos maiores dramaturgos e estudiosos do teatro.
Autor de mais de 20 textos teatrais e dono de títulos que confirmam o seu talento, o teatrólogo já foi premiado pela autoria do livro XV Mostra do Teatro Piauiense e, em 1982, 1984 e 1986, Ací é agraciado com o primeiro lugar no Concurso de Dramaturgia Jônatas Batista, promovido pela Fundação Cultural do Piauí.
Campelo não só atua se o assunto é arte. Atrás daquele pano normalmente vermelho e aveludado e por meio de uma voz pausada, a realidade: um escritor que já foi diretor do grupo Raízes de Teatro, Presidente da Federação de Teatro do Piauí, Presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão, Diretor do Teatro 4 de Setembro e Presidente da Associação dos Amigos do Museu do Piauí.
Atualmente coordenador do Troféu “Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense”, o entrevistado do Meduna desta sessão única e, é claro, com todos os ingressos já comprados, possui Licenciatura em Educação Artística, Artes Cênicas, Pós-Graduação em História Sociocultural pela UFPI e Especialização em Projetos e Marketing Cultural pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
O mais importante dessa conversa é o ponto de vista de Assis que, posto bem no meio do tablado, reflete em luz alta o teatro piauiense de uma forma simples, clara e direta. “Boa peça!”, finalizou a oradora, e se abriram as cortinas.
Meduna – Como você avalia a cultura teatral atual de Teresina e do Piauí?
Ací – Eu tenho a impressão que está havendo um melhor aproveitamento a partir do nível técnico. Os grupos já estão se preocupando em colocar em cada espetáculo os signos do teatro bem caracterizados. Figurino, cenário, iluminação, sonoplastia... Isso já são coisas que estão havendo de forma bem caracterizada. Em relação a atuação dos artistas, atores e atrizes, a gente – claro – precisa de um maior aprofundamento, inclusive porque a gente não tem muito referencial de atuação no teatro do Piauí. Referencial que eu coloco são pessoas já mais envelhecidas que permanecem no teatro. O teatro do Piauí é feito por muitos jovens.
M – O que pode impossibilita essa permanência? O que precisa ser feito para que mais pessoas não só se interessem pelo teatro, mas não desistam dele?
A – A grande dificuldade é permanecer fazendo teatro. Nós não temos um mercado consumidor de teatro. É muito pouco. Inclusive em relação as outras artes, em relação a música, em relação a dança, o teatro é menor. Tem menos gente fazendo. Então a permanência do ator e da atriz em cena é muito difícil. Por causa exatamente dessa insustentabilidade do mercado. Quando eu coloco que não temos atores endurecidos, não é que porque não tem qualidade. É uma característica que existe em outros estados. Você não tem atores do Piauí com mais de 60 anos atuando constantemente, então você não tem um referencial. Permanecer em cena é muito difícil no Piauí pela própria profissão. Afinal de contas, você tem que ganhar dinheiro na sua profissão. E como nós não temos um mercado, os atores não permanecem no mercado. Fazem dois, três espetáculos e saem, e aí não são mais atores nem mais atrizes.
M – O que faz com que o público não frequente tanto o teatro quanto frequenta outras atividades e locais?
A – Primeiro é o desconhecimento. Nossos atores não estão na televisão, não estão atuando em outras áreas, o teatro é muito difícil pra você levar onde não tem a possibilidade técnica. A dança você leva, a música você leva, o teatro não. O teatro é muito difícil para você levar em um bar. Não tem um espaço adequado para o teatro, e isso dificulta a divulgação. O conhecimento do teatro piauiense é muito pequeno. Depois, é muita pouca gente fazendo teatro em uma cidade que tem um milhão de habitantes, entendeu? É muito pouco grupo. Seria preciso uma – digamos assim – caracterização muito grande. Uma coisa muito grande no sentido de aumentar essa produção cultural do teatro para que houvesse esse conhecimento na cidade. Pra mim lhe dar aqui um dado, o próprio troféu (Troféu “Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense”, no qual Ací é organizador) esse ano aqui em Teresina tem pouquíssimo espetáculo. Nós temos apenas três espetáculos em Teresina... Três, quatro que concorreram ao troféu. Parnaíba tem nove, tá certo?, Floriano tem quatro. Você imagina então uma capital que tem três, quatro espetáculos de teatro: é muito pouco! Muito pouco pra população da cidade conhecer! E eles não estão em atividade constantemente. Se apresentam, passam vários meses sem se apresentar e depois retornam, entendeu? Tá sempre repetindo o mesmo espetáculo. A produção é muito pouca pra cidade.
M – E você é coordenador geral do evento “Os Melhores do Ano do Teatro Piauiense”. Qual a importância desse troféu para os artistas e para a cena teresinense de teatro?
O troféu foi criado tendo em vista que a gente queria oferecer aos artistas, técnica. É um troféu de reconhecimento pela sua atuação no trabalho realizado durante cada ano. Queria oferecer esse troféu como reconhecimento da profissão, e também para estimular a própria produção teatral. Esse troféu é para incentivar e elevar o nível artístico e técnico do espetáculo produzido aqui no Piauí. É um troféu de abrangência estadual. A gente cria um critério através de uma comissão que avalia cada espetáculo e dá esse troféu anualmente. Pra conhecer, inclusive, os artistas da cidade. Nós indicamos três atores de cada categoria. Temos 45 pessoas indicadas de Parnaíba, Floriano e Teresina. Quarenta e cinco pessoas indicadas para tirar quinze, que são os ganhadores do troféu. Aí nós temos o melhor espetáculo, melhor diretor, melhor autor, melhor atriz, melhor ator, melhor atriz revelação, melhor sinopse, melhor figurinista, melhor iluminador e melhor sonoplasta. São todas categorias técnicas e de atuação. Além disso, nós fazemos também homenagem ao grupo que se destacou no ano, ao produtor de teatro do ano e a personalidade que a gente homenageia no ano.
M – O troféu sempre escolhe um artista para ser prestigiado. A homenageada de 2016 é Isis Baião, certo?
A – É, um troféu sempre escolhe uma personalidade no ano para ser homenageada. Nós já homenageamos Octávio Cesar, Amauri Jucá, Afonso de Aguiar, e esse ano a homenagem é para Isis Baião. A Isis Baião se caracterizou, veio morar no Piauí novamente, e é uma dramaturga de renome nacional. Uma pessoa ligada tremendamente ao teatro! É do teatro, então nós estamos homenageando esse ano a Isis baião, com muita honra.
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